Deutsche Tageszeitung - Equador declara estado de exceção por radicalização de protestos indígenas

Equador declara estado de exceção por radicalização de protestos indígenas


Equador declara estado de exceção por radicalização de protestos indígenas
Equador declara estado de exceção por radicalização de protestos indígenas / foto: © AFP

O presidente do Equador, Daniel Noboa, declarou estado de exceção em dez das 24 províncias do país em meio a protestos de indígenas contra seu governo, que deixaram um manifestante morto, informou a Presidência neste domingo (5).

Alterar tamanho do texto:

A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), a maior organização de povos originários do país, iniciou em 22 de setembro protestos com o bloqueio de vias em várias províncias em repúdio à eliminação do subsídio ao diesel, cujo preço aumentou de US$ 1,80 para US$ 2,80 o galão (de R$ 9,60 para R$ 15, na cotação atual).

Os protestos deixaram um manifestante morto a tiros, 150 feridos entre civis, militares e policiais, bem como uma centena de detidos, segundo dados oficiais e de ONGs de defesa dos direitos humanos.

Mediante um decreto, Noboa declarou emergência em sete províncias andinas, inclusive Pichincha (cuja capital é Quito) e três amazônicas devido à "grave comoção interna", assinalou a Presidência na rede X.

No decreto, expedido no sábado por 60 dias, o presidente destacou que há "paralisações e atos de violência que alteraram a ordem pública" e que foi registrada uma "radicalização" dos protestos.

O principal foco dos confrontos entre manifestantes e a força pública é Imbabura (norte), uma província andina onde se desenvolvem sobretudo a pecuária e a floricultura, e onde se concentram 10% da população indígena. O setor de flores estima os prejuízos em um US$ 1 milhão (R$ 5,3 milhões) por dia.

A alta de 56% no preço do diesel representa um golpe para a economia dos camponeses, segundo a Conaie, que também reivindica a redução do IVA de 15% para 12%, e a atribuição de orçamentos maiores para a educação e a saúde públicas.

A organização informou, neste domingo, em um comunicado, que após duas semanas de paralisação nacional, o governo "responde com repressão às demandas do povo" e que o decreto "militariza os territórios" indígenas.

"Este estado de exceção agrava o risco do uso desproporcional da força e de detenções arbitrárias", acrescentou a Conaie, cujo líder, Marlon Vargas, expressou, no sábado, no interior do país, que "se tivermos que tomar a cidade de Quito, vamos tomá-la".

Noboa disse, neste domingo, que vai aplicar a lei. "Ninguém pode vir tomar a capital de todos os equatorianos à força", expressou.

O presidente destacou que "a lei espera aqueles que elegem a violência. Os que atuam como delinquentes serão tratados como delinquentes".

O aumento dos preços dos combustíveis é um tema sensível no Equador e resultou em violentas mobilizações indígenas e de outros setores sociais durante os governos dos ex-presidentes Lenín Moreno e Guillermo Lasso, em 2019 e 2022, respectivamente.

O governo de Noboa denuncia "atos terroristas" durante as manifestações e ameaça os responsáveis com penas de até 30 anos de prisão por este crime.

O presidente, que trava uma guerra contra o crime organizado, assegura que entre os manifestantes há infiltrados de máfias, como a quadrilha venezuelana Tren de Aragua, embora não tenha dado detalhes de sua denúncia.

Os povos originários representam quase 8% dos 17 milhões de habitantes do Equador, segundo o último censo. Líderes indígenas afirmam que, segundo estudos, eles somam 25%.

(W.Novokshonov--DTZ)