Deutsche Tageszeitung - Primeiras reformas de Milei avançam na Câmara Baixa argentina

Primeiras reformas de Milei avançam na Câmara Baixa argentina


Primeiras reformas de Milei avançam na Câmara Baixa argentina
Primeiras reformas de Milei avançam na Câmara Baixa argentina / foto: © AFP

O projeto ultraliberal do presidente Javier Milei deu um primeiro passo nesta terça-feira (30), quando os deputados votaram a favor das suas reformas para desregulamentar a economia argentina, e também debaterão um pacote fiscal em meio a uma maratona que começou na segunda-feira.

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A maioria dos deputados votou "em geral" a favor da Lei de Bases na manhã desta terça-feira, após mais de 20 horas de debate, e depois discutiu cada um dos capítulos do projeto, que foram aprovados no início da tarde e passarão para o Senado.

"Este é um primeiro passo fundamental para tirar a Argentina do pântano que foi as últimas décadas", celebrou Milei no X.

Ao concluir a votação da Lei de Bases, o presidente da Câmara Baixa, Martín Menem, deu aos deputados um descanso de dez minutos a fim de seguir com o pacote fiscal do governo, de 100 artigos.

Caso também seja aprovado, os dois projetos deverão percorrer um caminho tortuoso no Senado, onde o partido governista possui apenas sete dos 72 assentos.

Com a Lei de Bases, os deputados aprovaram medidas como a declaração de emergência econômica e energética por um ano, a delegação de competências que permite Milei dissolver estatais e a possibilidade de privatizar empresas públicas.

Também foi aprovada uma "modernização trabalhista" que entre outras coisas modifica o sistema de indenizações e aumenta os períodos de experiência dos empregados, algo que foi tachado pela deputada opositora de esquerda Myriam Bregman de "uma canalhice".

"O que está sendo aprovado aqui é facilitar a demissão de dezenas e dezenas de trabalhadores", declarou.

A lei também inclui um regime de incentivos para grandes investidores que contempla estímulos tributários, aduaneiros e cambiais e foi criticado pela deputada opositora Margarita Stolbizer, ao dizer: "Queremos investimentos, mas não a qualquer custo".

Também foi aprovada a eliminação ao acesso universal à aposentadoria mínima.

"Vou fazer 72 anos e nunca vivi algo assim. Alguns poucos, outros dois ou três granitos, outros quatro, todos puseram um granito para arruinar esse grande país que tem tudo", reclamou à AFP Guillermo Vidales, que foi protestar na porta do Congresso.

- Pacote fiscal -

A Lei de Bases contém cerca de 230 artigos, um terço dos incluídos em uma reforma ambiciosa que fracassou em fevereiro no Parlamento, onde o partido governista não controla nenhuma das duas Câmaras.

Para o analista político Gabriel Vommaro, a segunda versão do projeto de lei se deve ao fato de que Milei "está descobrindo como é difícil governar em geral e como é complicado governar a Argentina (...), e ele entende que precisa ser mais pragmático".

O pacote fiscal restaura um imposto sobre lucros eliminado pelo governo anterior e propõe regularizar ativos não declarados de até US$ 100.000.

O deputado governista José Luis Espert o defendeu, dizendo que se trata do "primeiro tijolo de um sistema impositivo mais razoável que permitirá baixar os impostos para lutar contra a pobreza" que afeta a metade da população de 47 milhões de habitantes.

Na Câmara dos Deputados, o Liberdade Avança, partido de Milei, tem 38 deputados de 257.

- Protestos -

A popularidade de Milei está em torno de 50%, segundo diversas pesquisas. Os apoios "se mantêm porque a polarização política se mantém e portanto não há para onde ir fora dessa estrutura do espaço político, que ainda é binária", disse Vommaro.

Dezenas de manifestantes repudiaram o projeto em frente ao Congresso até altas horas da noite de segunda-feira e alguns se estenderam até esta terça-feira, em concentrações convocadas por sindicatos e partidos da oposição.

"O que o governo nacional faz é basicamente vender o país, arruinar a população", declarou à AFP Manuel Crespo, um professor de 29 anos.

As centrais sindicais convocaram uma mobilização no dia 1º de maio, Dia do Trabalhador, contra o reajuste aplicado pelo governo, que tem implicado em milhares de demissões no Estado em um contexto de inflação de quase 290% anual.

Também convocaram uma greve nacional para 9 de maio, a segunda desde que Milei assumiu o cargo em dezembro, que será antecedida por uma greve de transporte aéreo, terrestre, portuário e marítimo em 6 de maio.

A Argentina está mergulhada em uma grave crise econômica e social há anos. Milei prometeu superá-la, mas à custa de grandes sacrifícios. Embora tenha alcançado um superavit fiscal, o país sofre agora com o colapso do consumo e da indústria.

(V.Sørensen--DTZ)